Escolinhas de esportes da CBDS beneficiam crianças surdas
Todo mundo sabe dos benefícios promovidos pela prática esportiva e que eles vão muito além da qualidade de vida e da melhora do condicionamento físico. Isso porque o esporte também tem um importante papel social na vida das pessoas.
E isso não seria diferente no caso de crianças surdas. Por isso, a presidente da Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS), Diana Kyosen, criou, no início do ano, as escolinhas de esportes para crianças surdas.
Ex-atleta da Seleção Brasileira de Futsal de Surdos, Diana tem no esporte sua paixão. “Sei os benefícios que tive por meio do esporte e, hoje, como presidente da CBDS, quero garantir isso para as próximas gerações de surdos”, declara Diana.
Segundo ela, além de promover a inclusão das crianças na prática esportiva, as escolinhas também vão fortalecer a base do desporto de surdos no Brasil. "As atividades vão de encontro também com outra importante meta da minha gestão, que é formar atletas de base para fortalecer as seleções brasileiras", completa Diana.
O nadador Guilherme Maia (Foto: Divulgação | CBDS)
Para o nadador Guilherme Maia, maior medalhista do surdodesporto e único brasileiro a ter conquistado medalha de ouro em Deaflympics, a criação das escolinhas favorece a quebra de preconceitos sociais e estimula a aprendizagem de modo mais colaborativo entre as crianças surdas. "Com as escolinhas as crianças surdas vão se sentir acolhidas e motivadas a desenvolver seu potencial ao máximo. O Brasil necessita urgente de mais escolas de base para formar atletas surdos e de patrocínios para esses atletas. Somos um país com mais de 10 milhões de pessoas surdas, temos uma infraestrutura maravilhosa e um clima que proporciona tudo para termos grandes atletas."
Inclusão por meio do esporte
Quem aprovou a iniciativa foi a dona de casa Margareth Nascimento. Para ela, as escolinhas de esportes são uma oportunidade para o desenvolvimento do filho Miguel Fabiano, de 10 anos.
Margareth com o filho Miguel Fabiano, aluno da escolinha de Futsal (Foto: Arquivo pessoal)
"Ele começou a praticar esportes com esse projeto das escolinhas da CBDS, aos 9 anos. Antes ele nunca tinha feito nada. Como ele estuda na Derdic, quando implantaram as escolinhas eu quis que ele fizesse parte e ele está amando participar", explica Margareth.
Aluno do 4º ano do Ensino Fundamental I, Miguel participa das atividades de Futsal e também pratica aulas de Tênis com os amigos da escola. "Acho importantíssimo ele fazer as atividades com outras crianças surdas. Para que ele e os amigos interajam e, principalmente, percebam que ser surdo não impede que eles façam o que quiserem", complementa a mãe.
Sobre a possibilidade do filho seguir carreira como atleta profissional, ela garante que apoia e aprova. "Sei que não é fácil a vida do atleta profissional. Mas, se essa for a vontade dele, ele será um profissional, com certeza, porque farei de tudo para ajudá- lo, ainda mais que ele está adorando as aulas e, desde que começou a participar das aulas da escolinha, vive praticando. Tive que comprar chuteira e meião porque ele está levando muito a sério os treinamentos", conclui Margareth.
Responsável pelas atividades da escolinha de Futsal, o coordenador de Futebol da CBDS, Paulo Vieira garante que, além de promover recreação para as crianças, as aulas vão ser uma fonte de novos talentos. “Eu tenho acompanhado as aulas todas as semanas e vejo que essas aulas serão importantes para descobrir novos talentos que irão formar as nossas seleções. Além disso, também já é perceptível ver a evolução por parte dos alunos, desde que iniciaram as atividades”, comemora o coordenador.
Quem também aprova as atividades da escolinha de esportes é Gislaine Lima Batista. Para ela, as escolinhas são uma oportunidade para a filha, Caroline Ferreira de Lima, de 9 anos, se desenvolver.
Caroline, aluna da escolinha de Futsal, com a família (Foto: Arquivo pessoal)
"A Carol sempre gostou das aulas de Educação Física e está sempre correndo. Recebemos a indicação da escolinha de esportes, conforme as turmas para a atividade com a CBDS. E, até então, ela tem praticado com muita dedicação, e vem sendo avaliada pelos profissionais do projeto. Com isso, ela já adquiriu muitas habilidades e mais amor ainda pelo esporte", garante Gislaine.
Segundo ela, a filha sempre gostou de brincar com bola, bicicleta e peteca, entre outras brincadeiras. "Acredito que a Carol tem potencial para competir profissionalmente e, quem sabe, ser uma atleta de muitas medalhas. Ela está amando as segundas-feiras porque sabe que tem as atividades da escolinha de esportes e não quer faltar. Apesar de sempre praticar atividades, ela só passou a conhecer as regras e a treinar mais sério, com uma finalidade esportiva e competitiva, agora com as aulas da CBDS. Além disso, essas atividades estão sendo fundamentais para o fortalecimento da identidade surda da minha filha, porque está refletindo na comunicação. Percebo que ela está muito mais à vontade", complementa Gislaine.
O coordenador técnico das Seleções Brasileiras de Voleibol de Surdos, Mário Xandó, destaca a importância das aulas para crianças. “A escolinha é de extrema importância porque ela incentiva a prática esportiva junto a crianças e jovens surdos, que passaram a contar com dois horários por semana para praticar a modalidade. Isso nunca aconteceu antes. Até então nossos treinos aconteciam apenas aos finais de semana e com muitas dificuldades para reunir todos os atletas. Por isso, ter as escolinhas funcionando é tão importante e vai render muitos frutos para as futuras gerações do desporto de surdos”, explica ele, que é o responsável pelas atividades da escolinha de vôlei.
Escolinhas de esportes
Com aulas voltadas a cerca de 70 alunos, entre crianças e jovens surdos, as escolinhas de esportes contam com patrocínio das Loterias Caixa e com a parceria do Instituto Santa Teresinha e da Derdic, em São Paulo, onde as aulas são realizadas.
Os alunos da escolinha de Vôlei (Foto: Divulgação | CBDS)
"A luta surda por respeito e inclusão já é conhecida. E não é diferente em relação às dificuldades enfrentadas pelos surdoatletas. Falta acesso a políticas públicas esportivas, já que a categoria não se enquadra na categoria do ‘paradesporto’. Além disso, os apoios e patrocínios direcionados aos surdos são infinitamente menores aos aplicados às demais categorias", explica Diana Kyosen.
Por isso, ela vem trabalhando e, inclusive, foi a primeira pessoa surda a conquistar uma cadeira no Conselho Nacional do Esporte (CNE), órgão vinculado ao Ministro do Esporte e Turismo. "Essa conquista foi muito importante, não só para os surdoatletas, mas para toda a comunidade surda, que ganhou representatividade no âmbito do esporte nacional", complementa Diana que vem trabalhando para ampliar as atividades das escolinhas de esportes para outros estados do Brasil.
"A ideia é expandir e, já no ano que vem, iniciar as atividades em outros estados”, finaliza Diana.